Sinopse:
O Tesouro de Sierra Madre
(Treasure of the Sierra Madre, The, 1948)
• Direção: John Huston
• Roteiro: B. Traven (romance), John Huston (roteiro)
• Gênero: Aventura/Drama/Faroeste
• Origem: Estados Unidos
• Duração: 126 minutos
• Tipo: Longa-metragem
COMENTÁRIO ESPECIAL:
Apesar de não possuir o tipo físico altivo e o rosto perfeito das estrelas masculinas típicas da Hollywood dos anos dourados (pense no maior de todos, Clark Gable), o ator Humphrey Bogart já era o nome mais importante da indústria cinematográfica em 1948. Graças ao sucesso de “Casablanca”, ele desfrutava do status de astro e galã, algo que de certa forma o deixava deprimido. Bogart não se achava bonito, estava ficando careca e queria que os críticos se rendessem ao talento que acreditava ter. Por isso, punha muita esperança no convite do diretor John Huston para protagonizar “O Tesouro de Sierra Madre” (The Treasure of Sierra Madre, EUA, 1948).
O brilhante estudo da cobiça estava sendo acalentado por Huston desde meados da década de 1930, quando o livro original de mesmo título fora publicado. Na verdade, Huston queria tê-lo filmado logo após terminar “O Falcão Maltês” (1941), o primeiro grande filme que fez com Bogart, mas teve que ir para a Europa servindo ao Exército dos EUA nos anos seguintes. O ator, de qualquer forma, comprometeu-se com o trabalho desde o começo dos planos de Huston. O contrato que Bogart tinha com a Warner até mencionava o filme; o ator tinha prerrogativa de vetar diretores e atores dos filmes que fazia, e usou esse poder para exigir que a Warner colocasse Huston no comando de “O Tesouro de Sierra Madre”.
É fácil compreender porque Bogart fez isso. “O Tesouro de Sierra Madre” é um filme de John Huston por excelência. Desde o longa-metragem de estréia (o já citado “O Falcão Maltês”), o tema favorito do cineasta sempre foi a ganância. O material de “O Tesouro de Sierra Madre” lhe permitia abordar o tema de forma direta, sem falseios ou subterfúgios, ao contar uma história sobre como o dinheiro carrega junto de si a desconfiança, e corrói a alma do mais simples dos mortais. Ousado, provocador, o longa-metragem atingiu os objetivos de todos os envolvidos: consolidou a carreira de Huston (ele ganhou dois Oscar, pelo roteiro e pela direção) e transformou Bogart no ator respeitado que desejava ser.
A história é simples, conduzida de forma sutil e firme. Quando o filme começa, Fred C. Dobbs (Bogart) é um mendigo norte-americano que implora por um prato de comida a qualquer compatriota que vê. Ele vive numa cidade mexicana, em 1925. Num albergue para vagabundos, conhece Howard (Walter Huston, pai do diretor, ganhou o Oscar de ator coadjuvante pela esplêndida atuação), um garimpeiro. Howard dá a idéia e ele, junto com o amigo Bob Curtin (Tim Holt, um dos maiores astros de western de todos os tempos), aceita. O trio parte para as montanhas mexicanas, em busca de um veio de ouro que possam explorar para enriquecer. São três vagabundos esperançosos que compartilham um senso agudo de camaradagem.
A jornada é dura, mas aparentemente recompensadora. Durante os dez meses seguintes, contudo, a câmera de John Houston vai se encarregar de mostrar menos o esforço do trio em busca de ouro, e mais a forma como o dinheiro segue modificando, lenta mas firmemente, as personalidades dos três homens – especialmente de Dobbs. Mostrado inicialmente como um sujeito afável e bem-humorado, o mendigo se transforma aos poucos num indivíduo amargo, que sofre de insônia (ele não consegue tirar a cabeça de que alguém vai roubá-lo durante o sono) e não confia em ninguém. Aos poucos ele vai enlouquecendo, e a câmera implacável de Huston (é impressionante como a fotografia consegue captar a dureza e o calor da região, mesmo em preto-e-branco) registra cada passo rumo ao abismo da loucura.
John Huston constrói a personalidade dos personagens através de seqüências curtas, aparentemente deslocadas da linha narrativa principal. Pegue, por exemplo, a cena em que o espectador é apresentado a Fred C. Dobbs. O homem acabou de conseguir um dólar com outro norte-americano (ponta do diretor, no papel do sujeito que dá esmolas a ele três vezes no mesmo dia) e está numa lanchonete. Um moleque o aborda e pede para que compre um bilhete de loteria. Dobbs o repele e, diante da insistência no garoto, joga um copo d´água no rosto dele. A partir daí, por mais que Dobbs se mostre um sujeito afável e amigável, sabemos que por trás dessa máscara há um homem impulsivo e amargo. O gesto é uma pequena amostra daquilo que ele vai se tornar, ao final do filme. Um final, aliás, de ironia inesquecível.
Por: Rodrigo Carreiro
CÓPIA DO ORIGINAL DE EXCELENTE QUALIDADE DE IMAGEM E SOM. PRETO & BRANCO. LEGENDADO.
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