Sinopse e comentário:
Na abertura de Meu Nome é Tonho, os créditos aos atores surgem sobre rápidos planos de seus rostos, que, sucedendo-se ao som de uma viola sertaneja, formam uma espécie de videoclipe onde podemos identificar diversos sujeitos que, em algum momento de suas carreiras, acabaram passando pelas lentes de José Mojica Marins: Eddio Smanio, Walter Portela, Mário Lima, Nivaldo Lima e Esmeralda Ruchel, além, é claro, de Toni Cardi.
Não se trata de uma coincidência: a obra em questão compartilha uma série de afinidades com o cinema de Mojica, que vão muito além da escalação de um elenco específico. De certo modo, não seria nenhum pouco equivocado afirmar que a relação mantida por Meu Nome é Tonho com os faroestes é a mesma que À Meia-Noite Levarei sua Alma estabelece com o terror. Em ambos os casos, deparamos-nos com um primitivismo exacerbado, que atinge a rudeza sem, no entanto, dissolver o apuro estético em momento algum.
Com efeito, o segundo longa de Candeias é um dos filmes mais violentos da década de 60. Sua narrativa é uma colagem de atos brutais, e na banda sonora escutamos mais disparos que diálogos – por sinal, os personagens estão sempre grunhindo, gargalhando cinicamente ou gritando, mas quase nunca falando. Uma velha senhora é espancada, mulheres levam bala pelas costas, bandidos cogitam estuprar as freiras de um convento, uma carruagem leva uma pilha de cadáveres: em Meu Nome é Tonho, a barbárie é o único sentimento a ser explicitado.
Sobre o resto, pairam as penumbras – esta é uma obra marcada pela indefinição. Um letreiro nos diz que as filmagens ocorreram em Vargem Grande do Sul; os acontecimentos capturados pela câmera, contudo, parecem ter se desenrolado num elo perdido entre o velho oeste norte-americano e o interior paulista. Não sabemos de onde vieram os malfeitores que aterrorizam a população, tampouco as motivações do justiceiro que, também vindo de algum lugar desconhecido, surge no final da fita; e, embora Candeias quebre a quarta parede ao inserir uma claquete entre os créditos iniciais e a primeira cena propriamente dita, seus personagens estão mais preocupados em levar adiante a própria vida do que em prestar contas ao espectador. Justamente por isso, Meu Nome é Tonho se torna um filme árido e exasperante, mas profundamente arrebatador.
Por Daniel Salomão Roque Meu Nome é TonhoDireção: Ozualdo Candeias
Brasil, 1969.
OBS: FILME DE QUALIDADE RAZOÁVEL. PRETO & BRANCO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Problemas? Sugenstões? Dúvidas? Informe... jeancarlospassos@hotmail.com