John Wayne, um artista atemporal. |
O cinema, durante seus quase 130 anos de existência, angariou alguns ícones que ficarão registrados em seus anais até que a arte se extinga por completo. Figuras como Charles Chaplin, Marilyn Monroe e James Dean são grandes exemplos disso, pela representatividade que possuem no tocante aos seus estilos de ser, pensar e agir – dentro e fora da grande tela, vale dizer. Porém, mesmo que estes sejam praticamente imortais dentro do mundo cinematográfico, jamais existiu nenhum outro astro (talvez Brando, não sei) que tenha conseguido superar o feito de Marion Michael Morrison, ator estadunidense eternizado com o estereótipo intranscendente do “genuíno cowboy norte-americano”, que acabou permeando por anos e anos o inconsciente popular como o maior exemplo de macheza, atitude, classe e estilo que se podia encontrar. Homens viam nele o modelo a ser seguido, ao passo que mulheres não desejavam nada mais além de se entregar aos braços de alguém com seu perfil.
A verdade é que Marion, ou John Wayne, como ficara popularmente conhecido após adentrar ao mundo cinematográfico, acabara tornando-se um ser mitológico em todas as partes do mundo. Representava o idealismo americano de bravura, com sua postura sempre ereta, voz firme e impositiva e dotado de um olhar tão gélido quanto ambíguo, mas também se tornara símbolo máximo do gênero faroeste – e, apesar deste representar apenas a cultura e a história estadunidense, não podemos negar que, como forma de cinema, era comercializado no mundo todo -, o que transformara seu nome em uma das marcas mais rentáveis da época. John Wayne fazia qualquer cinéfilo se arrepiar, se emocionar e correr tão rápido quanto possível para assegurar um lugar na sala de cinema mais próxima. Fora um fenômeno sem igual – e continua sendo, mesmo depois de seu aniversário de falecimento ter completado mais de 30 anos.
Como todo grande astro, Wayne construiu seu “império” aos poucos, enquanto se enlameava em meio a produções baratas e bastante ordinárias. Antes de seu primeiro pequeno papel de destaque, em A Grande Jornada (1930), de Raoul Walsh, já havia atuado em mais de quinze filmes menores, como Triunfo às Avessas(1927) e Minha Mãe (1928), sendo o último um dos primeiros que fizera com John Ford. Foi a partir de A Grande Jornada que Wayne despertara a atenção do público e de produtores, que começaram a ver nele um grande potencial artístico e, acima de tudo, comercial. Passou a década de 1930 alternando filmes inexpressivos (muitos deles, inclusive, permanecem desconhecidos pelo público brasileiro – e muitos desses provavelmente foram perdidos, como grande parte das produções daquela época) com alguns pequenos sucessos de época, do porte de O Cavaleiro Solitário (1934) e Uma Trilha no Deserto (1935).
Porém, no ano de 1939 a carreira de Wayne foi agraciada com um divisor de águas inestimável: sob a direção do lendário John Ford, o ator acabara por fazer aquela que é a obra que definira todas as principais características do cinema de faroeste clássico norte-americano. Trato da obra-prima No Tempo das Diligências, filme que ascenderia tanto a carreira de Wayne quando a de Ford, e os transformariam em dois dos nomes mais influentes e imbatíveis de Hollywood. A parceria entre os dois deu tão certo que, após este, realizaram juntos ainda uma série de grandes sucessos e filmes inesquecíveis (foram 22 no total), como Rio Grande (1950), Depois do Vendaval (1952), Rastros de Ódio (1956) e O Homem Que Matou o Facínora (1962) (meu preferido da dupla), entre outros.
A partir de No Tempo das Diligências, o ator despontara rumo ao estrelato de forma inacreditável, e de lá nunca mais saíra. Na década de 1940, muitos outros sucessos foram surgindo, e parcerias com outros diretores renomados também. É o caso de Howard Hawks, um dos maiores realizadores do período clássico hollywoodiano, com o qual fizera, nesta e nas décadas seguintes, vários dos maiores sucessos não apenas de suas carreiras, mas sim de todo o gênero. Como bons exemplos, posso citar Rio Vermelho (1948), El Dorado (1967) e, o principal, e um dos mais irretocáveis exemplares do gênero, Onde Começa o Inferno (1959).
Além de John Ford e Howard Hawks, outros grandes diretores da época também marcaram diversas parcerias com Wayne nas décadas subseqüentes. É o caso de Henry Hathaway, com o qual fez, entre outros, o filme que lhe concedeu o prêmio Oscar na categoria de melhor ator, Bravura Indômita (1969) (Oscar este que, na verdade, fora no máximo uma homenagem da Academia a Wayne, já que sua atuação neste filme nem de longe é memorável, como algumas outras); Otto Preminger, que o dirigiu no ótimo drama de guerra A Primeira Vitória(1965); Don Siegel, com o qual fez seu trabalho praticamente póstumo, O Último Pistoleiro (1976); Michael Curtiz, em Os Comancheiros (1961); e John Huston, com o qual trabalhou junto em O Bárbaro e a Gueixa(1958).
Entretanto, apesar de seu reconhecimento astronômico na área da atuação, o grande sucesso não impedira Wayne de ousar: no ano de 1960, o “cowboy” mais popular de Hollywood arriscaria uma participação por detrás das câmeras, dirigindo o filme O Álamo. A produção, embora não possa ser considerada exatamente como um triunfo de Wayne, fez seu devido sucesso na época, o suficiente para que chegasse a concorrer ao Oscar daquele ano, na categoria melhor filme. Wayne voltaria a arriscar seu nome na direção de longas metragens em Os Boinas Verdes (1968), onde tentara, com resultado constrangedor, demonstrar toda sua visão conservadora e patriota a respeito da guerra do Vietnã (embora possa ter sido um grande ator, suas ideologias ultrapassadas muitas vezes chegavam ao nível de ignorância, principalmente em função do excessivo conservadorismo).
Em 1969, já próximo do fim de sua carreira, Wayne, o ator que mais filmes protagonizara em toda a história do cinema (citei pouquíssimos nesse breve perfil, mas, na verdade, sua filmografia chega ao absurdo número de 154 filmes), acabara desenvolvendo um câncer que, sendo agravado gradativamente a cada ano, resultara na perda do pulmão esquerdo em 1979 e, sucessivamente, em seu falecimento. Wayne deixara para trás não apenas uma das mais extensas listas de filmes da qual temos conhecimento, mas sim uma gama de grandes atuações, personagens inesquecíveis e filmes praticamente imortais, que marcaram incisivamente a evolução da arte. Sua pessoa está acima de quase tudo e todos dentro do mundo cinematográfico, e John Wayne nos demonstra mais uma vez que, a bem da verdade, é um dos poucos artistas do século XX cuja atemporalidade lhe garante existência eterna dentro das mentes e corações dos verdadeiros adoradores da sétima arte.
Possuo 137 filmes de JOHN WAYNE. Quem tiver interesse, é só mandar um e-mail: jeancarlospassos@hotmail.com
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